A cidade na aldeia: influência e identidade entre os Kaiowá de Amambai e Taquaperi
Resumo
Cidade e aldeia são espaços intrinsecamente distintos e até excludentes, se consideradas a partir de suas características mínimas. No entanto, Amambai e Taquaperi, aldeias indígenas Kaiowá contíguas, respectivamente, às cidades de Amambai e Coronel Sapucaia, não demarcam as fronteiras simbólicas tão nitidamente quando o fazem com as placas delimitadoras da Terra Indígena demarcada. A cidade – aqui não em relação geo-expansiva, mas em seus efeitos simbólicos –, está na aldeia. Abordando esta relação cidade-aldeia, neste trabalho pretendemos refletir acerca do contato Kaiowá com o não-índio da população nacional. Como este afetou e implicou em mudanças em alguns aspectos do modo de viver do povo Kaiowá. Com isso, recolocamos o tema da identidade étnica nos termos de Barth e Cardoso de Oliveira, não pensando associá-la à manutenção de sinais diacríticos como emblemas, vestes específicas, pinturas e outros conteúdos culturais, que efetivamente não são mais notados entre os Kaiowá, mas em termos de uma “forma de organização social” que os mantém estruturalmente coesos e autoidentificados. Missionários evangélicos de vertente protestante histórica, buscamos, na teoria antropológica, uma reflexão das transformações entre os Kaiowá em meio ao fluxo simbólico citadino. As apropriações de elementos e do modo de vida do outro citadino dão indícios de que, como atores de sua história, os Kaiowá processam modificações em sua tradição, mas do seu modo, ressignificando sua indianidade na contemporaneidade, eles continuam sendo Kaiowá, mas de outros modos.