AVALIAÇÃO DOS EVENTOS TROMBÓTICOS EM PACIENTES COM MUTAÇÃO HETEROZIGÓTICA PARA O GENE DO FATOR V DE LEIDEN

Autores

  • Hállefy Ribeiro Araujo Universidade Evangélica de Goiás - UniEVANGÉLICA
  • Wesley Gomes da Silva Universidade Evangélica de Goiás - UniEVANGÉLICA
  • Jivago Carneiro Jaime Universidade Evangélica de Goiás - UniEVANGÉLICA

Palavras-chave:

Fator V de Leiden, Trombofilia, Trombose Venosa

Resumo

Introdução: Os fatores de coagulação V (FV) e VIII (FVIII) são glicoproteínas plasmáticas altamente homólogas e que compartilham funções semelhantes no processo de coagulação. Após serem ativados pela trombina, ambos agem como cofatores pró-coagulantes e são eventualmente inativados pela proteína C ativada (PCa), sendo este um importante mecanismo de anti coagulação (CASTOLDI; ROSING, 2004). Além disso, a PCa cliva o próprio FV inativo em uma molécula ativa anticoagulante, formando um conjunto essencial para a degradação do FVIIIa (CAMPELLO; SPIEZIA; SIMIONI, 2016). Deste modo, Andrade et al. (2019) destacam que pacientes com trombofilia de base genética exibem, ainda, predisposição aumentada para a ocorrência de tromboembolismo venoso (TEV), que tende a ser recorrente e acomete predominantemente indivíduos relativamente jovens e em até 1/3 dos casos de trombofilia. A simples identificação dessa condição de propensão não determina necessariamente o evento trombótico, já que ela é de influência multifatorial, sendo dependente de um conjunto de fatores genéticos e ambientais, bem como de condições adquiridas que permitem a expressão clínica individual (ANDRADE et al., 2019). A trombose venosa profunda (TVP) também é uma doença bastante frequente, principalmente como complicações de outras afecções cirúrgicas e clínicas. No entanto, também pode ocorrer espontaneamente em pessoas aparentemente hígidas. A estimativa da incidência da trombose venosa é calculada em 0,6 casos/1.000 habitantes/ano. Sabe-se que a ocorrência da TVP pode levar a complicações graves como embolia pulmonar e síndrome pós-trombótica. Dessa maneira, o fator V de Leiden (heterozigoto) está associado a um risco aumentado de 2,7 a 7 vezes para TEV. Sendo a incidência de TEV entre portadores heterozigotos de 163 em 100.000 pessoas-ano, com a maior frequência em pessoas ≥ 60 anos de idade (BOTERO et al., 2016). Por fim, objetivo deste trabalho consiste em descrever eventos trombóticos em pacientes com mutação heterozigótica para o gene do Fator V de Leiden. Palavras-chave: Fator V de Leiden; Trombofilia; Trombose Venosa. Metodologia: Essa pesquisa é um estudo transversal de uma população de 70 pacientes assistidos em duas clínicas privadas da cidade de Anápolis no período de 2018 a 2022, são amostras de conveniência com todos os indivíduos dispostos para o estudo, tendo sido avaliada a possível mutação para o gene associado ao fator V de Leiden. Os dados estudados foram obtidos por meio de prontuários médicos disponibilizados pelas clínicas. Destes, foram coletadas informações dos pacientes quanto a sexo, idade, motivação para a solicitação do exame genético e, resultado do referido exame, manifestações clínicas, ocorrência de avaliação para outras causas de eventos trombóticos, história familiar de trombos e manejo. Dessa forma, sendo incluídos todos os indivíduos com prontuários e/ou exames comprovadamente apresentando a referida mutação e excluídos todos os indivíduos que não apresentaram prontuários e/ou exames que não proporcionaram o estudo dos eventos trombóticos. Discussão: Assim, neste trabalho, em uma amostra de 70 pacientes, 59 foram selecionados para a pesquisa da mutação do FVL e foram observados 9 pacientes apresentando a mutação em heterozigose para o fator V de Leiden, dados comparáveis aos de Carvalho (2004), onde este autor também observou 9 pacientes de 100 (9%) pesquisados apresentaram a mutação. (FERNANDES; GIROLDO; OLIVERIA, 2017). Observou-se que dos 9 pacientes trombofílicos estudados 55,55% eram homens e 44,44 eram mulheres. Mas ao se observar os eventos trombóticos nos 6 pacientes, 66,66% eram homens. Por outro lado segundo, Carvalho (2004), de 100 pacientes trombofílicos estudados, 77% eram do sexo feminino e 23% do sexo masculino. Nestes pacientes, a mutação apresentou-se apenas no seu estado heterozigótico, 7 de 9 (77,8%) eram do sexo feminino e 2 de 9 (22,2%) do sexo masculino. Dos 292 indivíduos analisados para o FVL, no estudo de Ramos et al (2006), 39 (13,3%) foram positivos. Destes, 28 (71,8%) eram do sexo feminino, sendo 25 heterozigotos e 3 homozigotos, e 11 (28,2%) do sexo masculino e heterozigotos. Dessa forma, no presente estudo, também não houve diferença significativa quanto ao gênero entre os casos positivos para a mutação e de acordo com Dassoler, et al (2019) e Maalej et al. (2011) onde relataram não haver associação entre FVL e o sexo. Nos 6 pacientes onde ocorreram eventos trombóticos, no presente estudo, 50,00% destes tiveram um acidente vascular encefálico isquêmico (AVCi). Sendo 2 Pacientes > 50 anos e 1 Paciente < 20 anos. Também sendo relatados dois quadros de trombose venosa profunda (TVP), sendo um deles antecedente de um tromboembolismo pulmonar (TEP) < 50 anos e outro > 20 anos tendo o quadro isolado de TVP. E por conseguinte, um paciente apresentando Neuropatia Fibular Isquêmica (NFI) com idade < 40 anos. Já no estudo de Carvalho, (2004) houve predomínio de trombose venosa profunda (TVP), nos pacientes trombofílicos, em 77% dos pacientes, seguido da doença vascular cerebral isquêmica (AVC) em 14%. Houve embolia pulmonar (TEP) em 2% dos pacientes e trombose arterial (TA) em 2% dos pacientes. Além destes casos, a associação entre trombose venosa profunda e doença cerebral vascular isquêmica ocorreu em 1% dos pacientes, a associação com embolia pulmonar em 3% dos pacientes e com trombose arterial em 1%. Já nos pacientes portadores da mutação do FVL 88,9% sofreram trombose venosa profunda e 11,1% trombose arterial. Pacientes com doença tromboembólica venosa foi de 21,1%, em analogia a 5,5% nos indivíduos saudáveis. Resultados: Dos 70 prontuários de pacientes que se submeteram a pesquisa da mutação para o Fator V de Leiden, 61 apresentaram resultado negativo e 9 apresentaram resultado positivo para a mutação sendo todos eles em heterozigose, e apresentando uma prevalência de 6,3%. Dos nove pacientes com a mutação do Fator V de Leiden, 6 apresentaram eventos trombóticos. Observou-se que dos 9 pacientes trombofílicos estudados, cinco eram homens e quatro eram mulheres. Dos 6 pacientes com evento trombótico, quatro eram homens e dois eram mulheres. Dos 6 pacientes com eventos trombóticos, 3 tiveram um acidente vascular encefálico isquêmico(AVCi). Sendo 2 Pacientes > 50 anos e 1 Paciente < 20 anos. Também sendo relatados dois quadros de trombose venosa profunda (TVP), sendo um deles antecedente de um tromboembolismo pulmonar (TEP) < 50 anos e > 20 anos o quadro isolado de TVP. E por conseguinte, um paciente apresentando Neuropatia Fibular Isquêmica (NFI) com idade < 40 anos. Pode-se observar também no que tange aos tratamentos realizados em pacientes com mutação genética para o Fator V de Leiden. Os pacientes que apresentaram AVEi foram tratados de forma intervencionista com Eliquis 5 mg/dia, 12/12 horas, Marevan 5 mg/dia ou Xarelto 15 mg de 12/12 horas por 21 dias e após 20 mg. Todos eles com reavaliação de 6/6 meses. Para os pacientes com TVP ou NFI, foi observado o uso de Xarelto 15 mg de 12/12 horas por 21 dias e após, 20 mg, com reavaliação a cada 3 meses no primeiro ano e após esse período, avaliação anual. O TEP relacionado a trombofilia também se tem a mesma linha de tratamentos que TVP e NFI com a diferença de após 6 meses pode-se pensar no fim do tratamento, caso haja outro fator de risco relacionado a mutação heterozigótica. Os demais pacientes não tiveram eventos trombóticos e foram devidamente orientados a práticas que diminuem ou aumentam o risco de eventos trombóticos. Conclusão: Concluímos ser fundamental a atenção aos pacientes com a mutação do Fator V de Leiden Heterozigotos, justificada pelo risco de eventos trombóticos que podem afetar sua vida de forma grave. Este estudo buscou descrever os eventos trombóticos em pacientes com alteração genética para o Fator V de Leiden. Dentre as limitações deste estudo, pode-se citar o pequeno número da amostra, falta de artigos na literatura sobre o tratamento e principais eventos trombóticos oriundos da trombofilia estudada. Através deste trabalho, verifica-se a necessidade de mais estudos surgirem demonstrando a importância do conhecimento desta doença para, se possível, tentar evitar suas graves consequências para a vida dos pacientes portadores. Agradecimentos: Projeto voluntário de iniciação científica, pela Universidade Evangélica de Goiás - Anápolis.

Referências

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Publicado

2022-11-30

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Seção

ICEX_CIPEEX