PROSPECÇÃO FITOQUÍMICA E AVALIAÇÃO DA CAPACIDADE ANTIBIÓTICA DO EXTRATO HIDROALCOÓLICO DA FOLHA DE Brosimum gaudichaudii Trécul (MORACEAE)
Palavras-chave:
fitoquímico, capacidade antibiótica, hidroalcoólicoResumo
O surgimento dos antibióticos foi uma revolução no tratamento de infecções, contudo o uso indiscriminado dessas substâncias provocou o aparecimento de bactérias multirresistentes a esses fármacos, sendo este um grande problema de saúde pública. (Santos, 2004). Devido a esta problemática é indispensável o desenvolvimento de medidas para diminuir os impactos gerados e procurar novos recursos de tratamento, incluindo a descoberta de novos potenciais agentes antibacterianos, sendo as plantas uma fonte importante de substâncias biologicamente ativas, auxiliando no processo de descoberta e sintetização de inúmeros novos fármacos. (BARREIRO, E. J; BOLZANI, V. S., 2009). A Brosimum gaudichaudii Trécul é uma espécie vegetal nativa do cerrado, popularmente conhecida como mama-cadela, é pertencente à classe Magnoliopsida, ordem Rosales e família Moraceae. (CRONQUIST, 1988). Possui comprovados benefícios para saúde, contudo, sua atividade antimicrobiana é pouco explorada e controversa, já que os estudos encontrados divergem em relação aos resultados. (BORGES, 2016; POZETTI, 2005). Essa discordância entre resultados até então encontrados, demonstram a necessidade de maior aprofundamento sobre a atividade antibiótica da espécie a fim de elucidar o potencial de sua aplicabilidade como agente terapêutico. Esse projeto teve como objetivo realizar um estudo preliminar dos compostos fitoquímicos presentes nas folhas de Brosimum gaudichaudii Trécul e avaliar a atividade antibiótica do seu extrato hidroalcoólico frente a cepas de diversas bactérias. A pesquisa tem caráter experimental, exploratório e é quali-quantitativa. As coletas do material vegetal foram realizadas na área urbana da cidade de Silvânia Goiás (16°40'06.2"S 48°36'13.1"W), a primeira foi feita em maio de 2021, o material foi armazenado até sua secagem em local seco, fresco e livre da luz, esta foi usada posteriormente para os testes de prospecção e atividade antibacteriana. A segunda coleta ocorreu em setembro de 2021, foi transportada para o Laboratório de Pesquisa em Biodiversidade da Universidade Evangélica de Goiás, onde foi identificado e descrito as características macroscópicas do material vegetal pela Dra. Josana de Castro Peixoto, a exsicata também foi confeccionada e está em processo de tombo no herbário da Universidade Estadual de Goiás, campus Anápolis. A pesquisa de metabólitos secundário foi feita no laboratório de química da Universidade Evangélica de Goiás, utilizando metodologias adaptadas de Costa (2001), Matos (1988), Matos & Matos (1989) e Simões et al. (2017), onde foram pesquisados a presença de heterosídeos antraquinônicos, heterosídeos cardioativos, saponinas, cumarinas, alcalóides, taninos e flavonoides. Para obtenção do extrato hidroalcoólico bruto, o material seco foi triturado, pesado e posteriormente levado a maceração com etanol 78% durante 7 dias. Após a maceração essa mistura foi filtrada, o filtrado obtido foi colocado em rotaevaporador em temperatura de 40° C, até a retirada total do solvente. A técnica de microdiluição aplicada foi a descrita na CLSI M7 – A6 NCCLS, 2003 com adaptações, as seguintes cepas foram testadas: Salmonella typhimurium (ATCC 51812), Pseudomonas aeruginosa (ATCC 27853), Klebsiella pneumoniae (ATCC 700603), Staphylococcus aureus (ATCC 25923), Enterococcus faecalis (ATCC 51299) e isolados clínicos de Bacillus cereus, Proteus vulgaris e Streptococcus agalactiae, o teste foi realizado em duplicata. A atividade antibiótica do extrato foi verificada utilizando a resazurina sódica 0,01%, por 3 horas a 35°C como revelador. A caracterização macroscópica da planta demonstrou que as folhas são simples, coriáceas e pilosas em ambas as faces. O tamanho desse órgão variou entre 6-9 cm e apresentou largura entre 2,5 - 4 cm, possui filotaxia alternada, limbo elíptico, com base oblíqua, ápice cuspidado e margem revolta, a espécie vegetal estudada ainda não tem sua descrição no compêndio farmacopeico, contudo, essas características batem com as descritas no trabalho de Jacomassi, Moscheta e Machado (2007). A prospecção fitoquímica realizada neste trabalho demonstrou que a planta possui resultados positivos para heterosídeos antraquinônicos, flavonoides, taninos e cumarinas, entretanto, quando comparado com outros estudos encontrados na literatura percebe-se que existe divergência entre os resultados, como no estudo realizado por Moreira (2019) onde foi encontrado apenas a presença de alcaloides e antraquinonas, já nos testes de Santana et. al. 2018 foram encontrados flavonoides, saponinas, antraquinonas e cumarinas. Apesar da divergência, esse resultado é esperado uma vez que a produção de metabólitos secundários é diretamente influenciada pelas condições do ambiente como sazonalidade, disponibilidade hídrica, temperatura, nutriente, entre outros (NETO, L. G.; LOPES, N. P., 2007). O teste de concentração inibitória mínima aponta que diluições do extrato testado é capaz de inibir o crescimento das bactérias Gram positivas testadas, Staphylococcus aureus e Bacillus cereus a uma concentração de 95 mg/mL, Streptococcus agalactiae e Enterococcus faecalis foram inibidas em uma concentração de 23,7 mg/mL. Se tratando das bactérias Gram negativas, nenhuma concentração testada foi capaz de impedir o seu desenvolvimento. Como já foi supracitado no texto a atividade antibacteriana é pouco estudada e controversa, nos resultados que obteve, Pozetti (2005) avaliou o extrato hidroalcoólico de diferentes partes da planta nas concentrações de 25mg/ml e 50mg/ml frente a várias espécies de bactéria, dentre elas Staphylococcus aureus, Bacillus sp, Escherichia coli, contudo não foi observada nenhuma atividade inibitória. No estudo de Moreira (2019) foi testado o extrato etanólico na concentração de 20 ml/dL e também não foi obtido resultado positivo frente a cepas de Staphylococcus aureus, Enterococcus faecalis, Pseudomonas aeruginosa e Escherichia coli. em contrapartida Borges (2016) obteve resultados positivos contra Staphylococcus aureus, Escherichia coli e Streptococcus alfa hemolítico. De acordo com os resultados obtidos, podemos concluir que o material vegetal estudado possui grande potencial fitoquímico, uma vez que o estudo preliminar foi capaz de detectar a presença de heterosídeos antraquinônicos, flavonoides, taninos e cumarinas. Além disso, demonstrou capacidade antibiótica do seu extrato hidroalcoólico, obtendo resultados satisfatórios quando testados frente a bactérias gram positivas.
Referências
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